Flávia das Graças Reis, de 48 anos, moradora da cidade de Santa Luzia (MG), nasceu em Belo Horizonte e dedica seu tempo na luta em defesa do bem-estar das pessoas em situação de vulnerabilidade. Paciente oncológica, superou o câncer de mama há dois anos com muita leveza e força. Tendo se destacado pela forma como lidou com esse momento tão difícil. Atualmente, sua história se encontra no acervo do Hospital Felício Rocho para a inspiração de outras pacientes.
Hoje em dia, das muitas atividades em que Flávia tem protagonismo, uma delas é voltar ao Hospital e ajudar as mulheres que vivenciam esse momento tão doloroso do tratamento. Ela faz oficina de maquiagem, amarração de turbante, e leva todo seu alto astral, a fim de suavizar as dores dessa fase e fortalecer o processo de cura dessas mulheres.
Umbandista e militante dos Movimentos Quilombolas e de Terreiro, Flávia participa de um projeto de doação de marmitas e água mineral para pessoas em situação de rua da cidade de Santa Luzia. Esse projeto é promovido pela casa de Umbanda Bassá de Nanã, atualmente composta por 28 filhos, sediada no bairro Palmital. Ela destaca que a intolerância religiosa é muito forte na cidade, sendo que um dos maiores desafios para conseguir promover o bem que desejam. E ressalta também a dificuldade que a casa tem de promover festas na rua para as crianças, para cuidar das praças da região e que também são alvos de olhares e comentários violentos sempre que saem com suas vestes brancas e suas guias.
Além disso, é coordenadora da ala de Plus Size do bloco carnavalesco “Aflitos do Anchieta” e coordena também as “PASSISTASBH”. O projeto PASSISTASBH é um projeto musical e cultural que acolhe mulheres da região de Santa Luzia. Através da arte, do samba e da música, esse projeto tem como papel fundamental promover o empoderamento feminino. Muitas dessas mulheres são produtos de histórias violentas e delicadas, vítimas de violência doméstica, vítimas da depressão e vítimas também do padrão estético instituído socialmente como o que é belo, correto e desejado. Um padrão que não reflete a maior parte da população e é responsável por alimentar atitudes e posicionamentos violentos por parte de pessoas ignorantes. Em razão disso, há no projeto acompanhamento psicológico, terapêutico e ortopédico. Todas as mulheres que participam do projeto são acolhidas e exaltadas com o propósito de elevar a autoestima e trabalhar a autoconfiança. No último fim de semana, estiveram no ExpoFavela na abertura do show do artista Dudu Nobre. “Foi uma experiência muito bacana, as meninas ficaram apaixonadas”.
Das muitas pessoas atendidas por Flávia e pelo projeto, podemos encontrar inúmeras histórias e realidades diferentes. Colocando o Setembro Amarelo1 em pauta, trouxemos um relato da entrevistada, para exemplificar o tamanho do feito que os projetos sociais trazem para a vida dessas pessoas: “Eu tenho uma menina de 19 anos dentro do meu grupo que eu fiquei de duas e meia da manhã até cinco horas conversando com ela por chamada de vídeo para ela não se suicidar. Ela estava com a mão cheia de remédios e queria tirar a vida dela porque a família dela falou que ela era muito gorda, que ela nunca iria namorar, que não iria conseguir emprego, que ela era uma zero à esquerda e que ela nunca deveria ter nascido. São coisas que você trabalha e eu mostrei para ela que ela pode fazer isso tudo, que ela pode ser alguém. Dentro do bloco Aflitos do Anchieta, no ano passado ela saiu na avenida comigo toda alegre, toda feliz e de body!”
São por histórias como essa que Flávia se mantém sempre otimista em relação ao futuro. Por mais que ainda haja impasses e obstáculos, os espaços estão começando a ser ocupados por todos aqueles que sempre deveriam ter tido destaque, as lutas têm sido mais abraçadas. Por isso, devemos sempre resistir! “A minha perspectiva é que a gente vai vencer, e mesmo que a gente não vença, a gente vai continuar na luta. Porque o respeito é muito importante por tudo e para tudo, a gente tem que ter o direito de ir e vir em qualquer lugar.”
“Eu sou uma mulher negra, gorda, favelada, mas sou uma mulher que levanta as outras mulheres!”
Texto: Maria Regina Duarte Reis.
1 O Setembro amarelo é uma campanha brasileira iniciada em 2015 que tem como objetivo conscientizar e colocar em destaque a prevenção ao suicídio. Cuide de si e dos seus!
Em caso de emergência ligue 188 – Central de Valorização da vida🎗️