Para o mês de outubro, trazemos Meekulo Mukwahepo para a campanha Visibilidade Negra. Mulher forte, exemplo de luta, luta por aquilo que há muito a humanidade valoriza como um valor elevado e multifacetado, mas pelo que especialmente o povo negro luta até hoje: a liberdade.
Meekulu Mukwahepo, de nome completo Mkwanangombe Auguste Mkwahepo Immanuel, nascida em 1937 e falecida em 2018, foi a primeira mulher a integrar o Exército de Libertação Popular da Namíbia (People’s Liberation Army of Namibia1 – PLAN), criado pelo South West Africa People’s Organisation2 – o SWAPO, em 1966. Para tal Meekulu saiu da Namíbia em 1963, através da Angola, para finalmente chegar na Tanzânia, onde receberia o treinamento pela SWAPO. Junto ao seu marido, com coragem e determinação, Meekulu ficou 9 anos como a única mulher em campo na Tanzânia.
A Namíbia esteve sob o controle da África do Sul por muitas décadas após a independência da maioria dos países africanos, só conseguindo se libertar em 1990. Esse domínio se justificava pela ganância da África do Sul branca pelas riquezas presentes no território da Namíbia.
O SWAPO era majoritariamente um movimento nacionalista negro africano e era liderado por Sam Nujoma3. Após décadas de luta foi alcançada a libertação da Namíbia – após um cansativo conflito e com o suporte de outros países, foi acordado um cessar fogo, organizadas eleições, e finalmente oficializada a libertação em 21 de março de 1990.
Meekulu é uma palavra afetiva que significa “Grande mãe”. Após seus anos na Tanzânia, Meekulu cuidou de crianças refugiadas na fronteira da África do Sul, assim como de seus próprios cinco filhos. Sua luta era para que sua terra fosse livre, grande mãe não apenas de seus próprios filhos, nem das crianças refugiadas de quem cuidou, também da liberdade. A libertação da Namíbia viria com a repatriação, os desafios da pobreza, mas após um período também com as homenagens, recebendo uma medalha por seu heroísmo, também casa, móveis e uma pensão.
Podemos precisar de heróis e heroínas para prestar nossas homenagens, mas o que pode nos inspirar em Meekulu é sua iniciativa, seguindo seu marido para uma guerra que era de seu interesse, mas que ninguém exigiria que ela tomasse parte. Se os corpos estão cansados ou não, a luta não para, e os heróis podem estar em qualquer um. Meekulu nos traz esse espírito de luta, mas também de proteção do que é precioso. Das crianças? Não apenas, também do futuro. A liberdade real vem não apenas em nome dos que já sofrem em sua ausência, mas também dos que ainda por ela ansiarão.
Texto: Karla Rebeca de Queiroz Rangel
1 Exército de Liberação do Povo da Namíbia.
2 Organização do Povo do Sudoeste da África.
3 Ativista e revolucionário anti-aparthaid que governou a Namíbia por três vezes como presidente e foi o primeiro da Namíbia, em 1989.