Hoje iniciamos o mês de celebração da Consciência Negra com um fato inédito: pela primeira vez na história do Brasil o dia 20 de novembro será feriado nacional. Essa importante data faz memória ao assassinato de Zumbi, líder do Quilombo de Palmares e suscita importantes ações e reflexões acerca da condição de vida da população negra. Portanto, esse momento é fundamental recordar a origem dessa data.
É importante lembrar ainda que o processo de escravidão no Brasil constituiu uma forma de usurpação e desconstituição de toda a condição humana. Em vista disso, os Quilombos tornaram-se experiências exitosas no enfrentamento a escravidão e todas as formas de dominação do período. A liderança de Zumbi foi fundamental para a liberdade dos negros/negras e pessoas em situações de exclusão.
A fuga das famílias opressoras, senzalas, grandes fazendas e propriedades eram enfraquecidas pela falta de condições. Sem lugar, alimento, vestuário e proteção não haveria sentido a fuga. Essa é uma das armadilhas da escravidão: encerrar as alternativas de resistência por meio da dominação física, subjetiva e cultural e consequentemente forçar a destruição dos horizontes de resistência e esperança.
Durante o século XVI/XVII, no estado de Alagoas, viviam aproximadamente trinta mil pessoas negras e excluídas (homossexuais, prostitutas, deserdados, pessoas consideradas perturbadas)1 que experimentavam outra forma de organização social com condições reais de sobrevivência, ou seja, alimentação, moradia e proteção para aqueles/aquelas que estavam fugindo da opressão.
Zumbi, assumiu a liderança do Quilombo após recusar o acordo proposto pelo Governador da Capitania de Pernambuco ao líder Ganga Zumba, em que oferecia liberdade a todas as pessoas do Quilombo que se submetesse à Cora Portuguesa. Quinze anos depois, em seis de fevereiro de 1694, houve uma grande invasão no Quilombo e Zumbi foi ferido. Quase dois anos depois, em vinte de novembro de 1695, Zumbi foi assassinado a mando do governador. Apunhalado junto com vinte guerreiros foi morto aos quarenta anos de idade.
Zumbi e tantas lideranças negras e antirracistas demonstraram que o Quilombo é uma experiência de ruptura com a lógica perversa de dominação. Aquilombar tornou-se um verbo no sentido de construção de outras formas de socialização, sentimento de pertencimento, participação e consciência negra. É um território político de construção de outras lógicas e formas de interação social.
Aquilombamos na construção de políticas públicas voltadas para a garantia dos nossos direitos; na eleição de representantes comprometidos com a luta antirracista; nos rituais cotidianos de afetividades e nas organizações sociais de defesa de direitos. Aquilombar é prática de quem não está no polo da dominação pela raça ou estabelece os pactos de branquitude. No Quilombo cabem todas as pessoas excluídas, mas é fundamental compreender que o lugar de fala é do povo negro.
Muitos avanços foram conquistados, mas ainda precisamos lutar muito para que a promoção da igualdade racial tornou-se uma realidade no país. Ainda hoje a população negra precisa de segurança, alimentação, moradia, proteção e respeito aos territórios. Aquilombar é preciso!
Referências:
BRASIL. Lei nº 14.759, de 21 de dezembro de 2023. Declara feriado nacional o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra. Brasília: Presidência da República, 2023. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/lei/l14759.htm Acesso em: 30 out. 2024.
PORTAL GELEDES. Disponível em: https://www.geledes.org.br/zumbi-dos-palmares/ Acesso em: 31 out. 2024.
1 O número de habitantes no Quilombo de Palmares, equivale a praticamente toda a população residente em Araçuaí – MG neste ano.