Na última semana, o mandato do deputado estadual Marquinho Lemos (PT) realizou mais um bate-papo com o Jipão, um dos fundadores do Movimento Negro Unificado e companheiro do PT de Caratinga.
Neste mês de agosto, o encontro teve como tema Memória – resistência e empoderamento dos negros e negras. Na oportunidade, lideranças de várias regiões do estado puderam expor suas realidades e vivências de acordo com o tema.
Segundo a vereadora Neura, do município de Lajinha, negros e negras têm o dever de estar na militância para romper com a dominação da elite branca que vem perpetuando seus privilégios. “Cada vez mais precisamos praticar o ubuntu, praticar a solidariedade, a fraternidade. Só conseguimos isso se estivermos num movimento, se estivermos engajados. E só conseguimos o empoderamento a partir do conhecimento. Conhecimento do que falamos e do que fazemos. Precisamos desse conhecimento para nos estabelecer”, destacou.
O companheiro Dilson, de Belo Horizonte, falou sobre como a história dos negros foi apagada. “Quando falamos da história dos negros é uma história de luta e resistência. Nos livros de história, a história dos negros foi sequestrada. A partir da legislação recente que a história dos negros se tornou obrigatória. Com o advento da lei 10.693/03 estamos citados nos livros de história. Muito de nossa história não consta nos livros. A Revolta dos Malês não consta nos livros que estudamos. O que eles lutaram naquela época ainda continuamos a lutar: fim dos castigos físicos (a maioria das vítimas da violência são negros), alfabetização das crianças negras (principalmente no pós pandemia); fim do trabalho escravo (hoje temos situação análoga ao trabalho escravo). Essa luta é de ontem e de hoje”, disse.
Já o companheiro Alexandre apresentou reflexões sobre o candomblé. “Dizer da resistência do candomblé falando a visão de hoje é míope. Ela veio trazido por negros que foram escravizados. Não temos condições de imaginar o que essas pessoas passaram para manter viva a tradição. Tenta se desvirtuar a religião pelo que ela não é. Tentam fechar o cerco tentando trazer a religião para a marginalidade. Quando entendemos o culto da energia da natureza e nos inserimos nela como parte dela. Começamos a entender a religião como ela é. Uma forma de destruí-la é atribuir coisas que ela não é. A história escrita nunca tem a conotação do que aconteceu ali. A escrita perde infinitamente para a visão presencial (ver o fato – aumenta a percepção); registro da oralidade. Outro pilar de sustentação das religiões de matriz africana é totalmente pautada na oralidade. Quando através da oralidade professamos o que sentimos. Faz parte de outro processo do estado de resistência”.
Helinho também trouxe reflexões sobre religiosidade. “Na vida temos vários núcleos: religioso, estudos. É muito importante usarmos o conhecimento desses diferentes núcleos. Quando decido por uma determinada religião estou decidindo pelo sagrado, e também por uma opção de vida. As religiões de matriz africana são transformadoras. Elas transformar a minha vida. A visão do terreiro não é somente do lugar do culto ao sagrado. É lugar porque culta a história, a ancestralidade, cumpre papel que o governo deveria cumprir, ações sociais, no dia a dia da comunidade, vendo e ajudando realmente precisa. O terreiro é majoritariamente negro, mas não exclui os brancos. O terreiro aceita independe de gênero, sexo e dinheiro. O terreiro é família. Entende as diferenças e acolhe a todos que procuram”, destacou.
A companheira Lourdes, de Contagem, também participou do encontro e falou da necessidade de transformar a realidade a partir dos diferentes espaços ocupados. “É preciso chamar as pessoas para o meio. Sentir a dor do outro. Como transformar a nossa realidade de onde estamos? Saber que nós estamos num cenário de perdas de direitos, tantas lutas, tantas histórias, a Constituição de 1988 trouxe luzes para a gente e vemos que o cenário atual é de perda de direitos. A esperança nos estimular a dizer não. O princípio da esperança tem que nos provocar para a ação. Ele vem carregado de dois princípios fundamentais a indignação (falar não) e a ter coragem pra mudar e transformar. Nós temos que nos indignar e ter coragem para mudar a nossa realidade. Para isso precisamos conhecer a nossa realidade”, refletiu.