O mês de maio, também conhecido como mês das mães e das noivas, é marcado por datas memorativas: dia do trabalhador/trabalhadora; mães, família, abolição da escravatura, e combate ao LGTFOBIA . No dia 13 de maio de 188 foi assinado pela Princesa Isabel o decreto da Lei Áurea abolindo a escravidão no Brasil. Embora essa data mereça destaque é importante reafirmar que trata-se de uma abolição inacabada ou falsa abolição. Dois fatores são importantes de serem enfatizados: o Brasil foi o último país do continente a abolir a escravidão e tal fato ocorreu pela pressão dos movimento da época e a inviabilidade econômica da manutenção do trabalho escravo.
Para refletir sobre esses aspectos, realizamos no dia 13 a Roda de conversa sobre o pós 13 de maio e a “falsa abolição” com a motivação de Maria Goreth Costa Heredia Luz-, professora, formada em História e pós- graduada em Ciências da Religião, integrante do grupo de Liderança da Comunidade dos Arturo e Rainha Estela Guia da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário no Quilombo Arturo.
A importância de compreendermos esse processo histórico, mais de 400 anos de escravização e 133 anos de abolição, e a continuidade da luta pela sobrevivência dos negros e negras no Brasil, políticas públicas que atendam a população negra, valorização das crianças e mulheres e procurar melhorar as relações com o outro, foram assuntos abordados pela convidada. “O racismo acontece quando encontro com o outro. Conquistamos muito, mas ainda temos muito a ser conquistado: ainda não somos dos nossos territórios. Eles ainda acham que são donos dos nossos corpos. Para vencermos precisamos ter unidos e juntos. Quem traz o racismo e o preconceito precisa fazer uma reflexão acerca do respeito as culturas, sobre a forma que temos para viver e para ser. Precisamos trabalhar isso para vivermos de uma forma mais humana. Viver amor é viver uma ato de responsabilidade com o outro”, afirmou Goreth.
Lourdinha, professora em Extrema, enfatizou que “quer pessoas inseridas. Não quero ser o negro de estimação, não quero corrente, não quero grilhão, não quero abandono. Quero que essa história seja constata com amor, com cultura, história, verdade e garra. Quero o que é meu por direito e me roubaram. Porque até hoje os quilombos ainda não uma realidade. Não quero começar de novo. Quero começar de novo, a partir de agora. Não quero contar do sofrimento, quero contar do que é nosso por direito. Esse sangue grita”.
Willian Santos, advogado e diretor de inclusão da OAB, comentou acerca dos desafios para o cumprimento da Lei contra o racismo. E Nereu conclui que o pós abolição não aconteceu. Ouvi isso do meu professor de ciências em 71. Era um professor branco e que falava que na comunidade dos Vieiras até hoje é explorado. Na época não podia falar abertamente. A questão toda é o pós. O que ocorre tem que ter ações efetivas. Essa discussão está muito urbana ainda e nas comunidades organizadas. Ela não está no grotão. Onde as pessoas vivem os resquícios dos donos das terras e das fazendas. A questão da discriminação é de todos. Mais professores, mais juízes, mais advogados para combaterem. Temos que voltar a debater com mais profundidade. Precisamos de políticas fortes de Estado para ter efetivação de forma mais objetiva e a interferência do Estado a partir do município.
A discussão desse assunto afeta a maioria da sociedade brasileira. É preciso lembrarmos que a exclusão social, o racismo estrutural e estruturante perpétuas consequências da falsa abolição. Nas palavras de Goreth:” Levantamos a bandeira da princesa Isabel pelo respeito a decisão dos mais velhos em reconhecer esse momento e no mesmo dia na mesma festa relembramos e fazemos memória acerca da população negra. Trazemos a conscientização da falsa liberdade e do tanto que precisamos nos aquilombar, reunir, juntar. Essa luta é uma luta de todos”.
Texto produzido pela socióloga Isabel dos Anjos, que conduziu as discussões do encontro.