Luiz Fernando Herculano, professor de história, já atuou como desenhista e projetista. Nascido em Volta Redonda, Rio de Janeiro, morou em São Paulo durante sua infância. Vivendo o contexto do Golpe Militar, Herculano acompanhava seu pai – militante sindical – e começou sua militância dentro das igrejas e nas comunidades eclesiais de base, sempre engajado na luta pela redemocratização. A partir da experiência nas CEBe’s conheceu a luta pela igualdade racial, lugar em que também integrou-se ao Movimento Negro Unificado (MNU), onde atua desde então. Hoje o professor Herculano reside em Pouso Alegre – MG.
Dentre as experiências, Herculano destaca a atuação na docência, principalmente, sobre as dificuldades de trazer a questão da raça à sala de aula. Ele relata como as discussões de antigamente sempre foram pautadas com um peso maior para a questão de classe. Os movimentos sociais têm fundamental papel ao trazerem à tona a discussão de raça. Sem discutirem raça, não haverá avanço nas pautas sociais.
Diante dos desafios, Herculano, que tem também formação em Filosofia e Sociologia, traz essas formações como elementos do seu pensar. É importante refletirmos sobre os estranhamentos. Em muitos momentos naturalizamos as injustiças sociais. Às vezes, as pessoas se comovem mais com a situação de um animal que com as injustiças sofridas pelo povo negro. Para Herculano, é preciso estranhamento diante das questões do racismo estrutural, que permeia a toda a nossa sociedade e está presente em todos os lugares.
Ninguém deseja admitir que projeta racismo, mas toda a sociedade o faz. Para ele, projetos como o Visibilidade Negra tem grande importância, pois traz pautas que o Movimento Negro Unificado sempre tratou e ainda trata: a falta uma representação positiva, tanto na vida em geral quanto nas escolas, em que o negro sempre é associado ao seu sofrimento, ao pelourinho, ao chicote. É importante termos intelectuais, entendermos que existem outras oportunidades e principalmente trazermos, de modo positivo, figuras que a história não aprecia.
Outro ponto de reflexão apontado pelo Professor Herculano é a valorização da oralidade ancestral. Estudando o associativismo nas associações de bairro, ele vê essa característica em comunidades negras mais antigas. Se unir para construir é característico da ancestralidade negra, porém também se faz importante termos registros de nossa história, de modo que não se percam no espaço-tempo. Essas discussões devem acontecer durante todo o ano, não apenas em Maio ou Novembro.
Pensando no futuro, Herculano é um otimista, mas tem seus motivos: ao observar o passado, em que discutia com seus colegas do Movimento Negro Unificado sobre a pauta de raça, ouvia que nada ia mudar, que reparações não ocorreriam, e o que vemos hoje é uma situação em que a pauta de raça está presente em muitos lugares, em que as cotas são uma realidade e em que mais avanços estão em discussão, de forma importante, são pauta.
E para pensarmos e agirmos por um futuro sem racismo, Herculano recorda os ensinamentos de Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, elas podem ser ensinadas a amar.”
Entrevista e texto: Maria Regina Duarte e Karla Rebeca de Queiroz Rangel