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Visibilidade Negra – Conheça a história de Bim Oyoko do coletivo Nosso Sarau e da Banca de RAP

Bim Oyoko FEED 1

Bim Oyoko, 39 anos, natural de Belo Horizonte e filho bastardo da cidade de Sarzedo. É catador de palavras e traz seus versos de raízes fincadas no Extremo Oeste da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Desde 2013, circula pelos saraus de periferia. Atualmente faz parte do coletivo Nosso Sarau e da Banca de RAP Texas Griot, ambos de Sarzedo.

O coletivo Nosso Sarau, formado em fevereiro de 2014,é um coletivo de poesia marginal, que nasce da vontade de reunir e promover a cultura Hip hop, urbana e periférica – cultura extremamente criminalizada em nossa sociedade. Apesar de Sarzedo se localizar na região metropolitana de Belo Horizonte, tem muitos trejeitos de cidade do interior. Com o tempo, a cidade foi crescendo, pessoas foram chegando e aqueles envolvidos com a cultura do hip hop, skate, poesia, rap, rock, BMX e afins, se encontram. Porém, não havia um ponto específico onde eles pudessem se encontrar, se organizavam em alguns pontos da cidade e depois começaram a se reunir na praça central onde podiam se expressar. A partir desse encontro, nasceu a ideia da criação do projeto, o coletivo nosso sarau virou rotina, uma vez por mês há encontros na praça para declamar poesias, andar de skate e se expressarem como melhor preferir.

O grupo de Rap Texas Griot despontou como consequência do “Nosso Sarau”. A partir da união de rappers que compõem o coletivo, nasce uma música para homenagear o sarau, e continuam atuando para além do coletivo.

Tendo a bandeira da juventude como sua principal causa, Bim Oyoko compõem a rede do fórum das juventudes e luta no enfrentamento ao genocídeo da juventude negra. A violência contra a juventude preta vai além da violência física, ela se manifesta no extermínio dessas vidas, de sua cultura, em questões filosóficas, ideológicas e até territoriais. Tudo aquilo que advém da cultura urbana e periférica, e principalmente, da cultura preta, parte do princípio da criminalização. O racismo estrutural está posto em nossa sociedade, de forma que o preto cria, e logo após, o branco se apropria e dita o que deve ou não ser feito.

Bim chama atenção para falta de políticas públicas que realmente sirvam de suporte e incentivo para a expressão da cultura preta e periférica. E destaca, em tom de crítica, essa falsa percepção que a “juventude é o futuro”, ele nos convida a refletir sobre como o jovem é o agora. Se nós não pensamos, não cuidamos e nem atuamos com a juventude no presente, não é possível esperar que haverá um futuro diferente, não se pode jogar a responsabilidade do futuro na juventude, os jovens vivem o agora, aprendem no presente o somam o hoje!

A cultura Hip Hop teve diversos avanços, conquistou muitos espaços e se ramificou, apesar do processo de criminalização e preconceito. Houve resistência e progressão! Porém, a ascensão da extrema direita no Brasil trouxe junto um retrocesso. Discursos racistas que já haviam perdido espaço voltam a se manifestar e a trazer consequências negativas. Não dá para dizer que “a favela venceu” quando ainda vemos drásticas desigualdades, todas oriundas do racismo estrutural. Ainda temos muito o que alcançar e o que pensar, ele acredita que a perspectiva é de que o acesso à informação seja ainda mais ampliado. Pensar no futuro é pensar que já avançamos mas que é necessário avançar mais, pensar no futuro é voltar a caminhar a partir de um ponto que estivemos á alguns anos atrás. É se reaproximar do povo periférico, das favelas e da juventude. Com um diálogo acolhedor, mostrando aquilo que eles têm que perceber como visão de mundo: nós já acessamos informação, acessamos espaços, mas o senso crítico e a aproximação, propriamente dita, com a periferia que existia há 20 anos, perdeu-se. Para o futuro é importante retomar o diálogo com as periferias para gerar um senso crítico. O contexto imediatista, fomentado pelas grandes mídias, em que estamos imersos, geram debates sem aprofundamento, críticas vazias e escassez do processo reflexivo, trazendo consequências grandemente prejudiciais.

Apesar dos pesares, é tempo de esperançar! Anos atrás, tocar rap nas rádios era algo inimaginável, hoje em dia esses espaços são ocupados. As mídias sociais e a democratização de informações são peças chaves para isso. O povo preto resiste e (re)existe! Se ressignifica. Se fortalece. E se transforma a cada dia!

“Quando a mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela” – Angela Davis

Entrevista e texto: Maria Regina Duarte Reis

É com as quebradas

Ah Quintana!

Você um poeta fodástico.

Dissestes que o amor

Não deve ter nó e sim ser laço.

Mas o amor que eu sinto

Eu fiz questão que fosse atado a nó, cego.

Do qual faço questão de não ser liberto.

É saudoso poeta eu lhe digo:

É as quebradas que eu amo

E é com elas que eu me identifico.

Meu amor que ressoa mais alto

Que o motor das Hornet loka!

Por cada centímetro dali

E também por cada pessoa.

Amor pelos becos onde andamos

Que são calorosos e apertados como um abraço

E de fluxo constante como Noiz

Que tem sangue correndo nas veias.

Amor por cada gato no poste

Por cada raiar do dia

Em que se pode ver quem vai

Correr pelos trocados pra sustentar a família.

Amor por cada madrugada em que se

escuta os radin na função de quem tá na

atividade sonhando ser patrão.

A eles sabedoria pra sair desse caminho periculoso

E proteção, muita proteção.

Amor pelo samba e Hip Hop ali presentes

É pela Poesia Marginal e o baile de

Favela Cultura que vem de gente da gente.

Amor por cada sinal de fumaça no fim de

semana, é pelo churrasco, pelo som alto

pelo bronze na laje.

Pela arquitetura mais inovadora que Niemeyer,

Pela engenharia contemporânea

Dos que não são graduados,

Pelas cores vivas em cada barraco

Pelos graffitis e pixos ali espalhados

Por poder encontrar e saudar

O vizinho ao lado.

Amor pela correria das crianças,

Pela gritaria de alegria da infância,

Pelo futebol na quadra comunitária,

Pela Dona Maria que assiste novela,

Pela vendinha do seu Zé,

Pela resenha com os amigos,

Pelo dialeto ali exercido,

Pela feira de domingo.

Amor pela união nas lutas,

Pela resistência diária,

Por cada voz que não se cala.

E pra que nunca entendeu esse amor!

“Iva mato no use úc, lhafi da tapu!

Só quem é de lá sabe o que falo.

É saudoso poeta.

Se soubesses o que eu sinto,

Diria que o nó foi bem escolhido.

E é por isso que eu digo e repito a todo ser vivo.

É as quebradas que eu amo

E é com elas que eu me identifico.

Bim Oyoko

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