Visibilidade Negra – Conheça as histórias de Maria Das Dores Nunes Silva e de Tereza de Benguela

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Dentro da campanha Visibilidade Negra, realizada por nosso mandato com o objetivo de apresentar a trajetória de negros e negras e de movimentos que têm e tiveram papel de destaque, trazemos duas histórias neste mês de junho.

A primeira delas é da Maria Das Dores Nunes Silva, de Araçuaí. Sua atuação no quilombo deve ser reconhecida.

Já a outra história é da Tereza de Benguela, que viveu no século XVIII e, como outras heroínas negras, teve seu nome esquecido pela historiografia nacional.

Maria Das Dores Nunes Silva

Sou Maria Das Dores Nunes Silva, de Araçuaí. Trabalho na lavoura e também já trabalhei como servente escolar. Eu e minha família sempre trabalhamos na roça, vivendo sempre nessa luta. Uma vida alegre e também muito sofrida por causa da seca, do sol quente e do trabalho duro.

A nossa comunidade, apesar de estar apenas a 20 km da cidade de Araçuaí, foi esquecida pelas instituições, prefeitura e órgãos do estado, que não davam atenção para a comunidade quilombola, que também sofria com o preconceito.

Apenas há alguns anos, ela foi reconhecida. A comunidade recebeu deputados, vereadores, prefeitos por ser reconhecida como quilombola.

Nossa vida é, ao mesmo tempo, alegre e sofrida. A vida das rezas era muito bonita apesar do sofrimento. O Vale do Jequitinhonha é um vale de muitas riquezas, culturas, farturas, belezas dos nossos modos de vida, das nossas culturas, do batuque, da Folia de Reis, são nossas tradições.

A imagem dos negros fortalecem nesse sentido a ancestralidade brasileira e mostra esse lado bonito da vida dos quilombolas.

Tereza de Benguela
Tereza de Benguela é, assim como outras heroínas negras, um dos nomes esquecidos pela historiografia nacional.
Tereza de Benguela tem o seu local de nascimento desconhecido pela história. Ela pode ter nascido em algum país do continente africano ou no Brasil, mas sua vida faz parte da história pouco contada do Brasil. Tereza viveu no século XVIII e foi casada com José Piolho, que chefiava o Quilombo do Piolho até ser assassinado por soldados do Estado. O Quilombo do Piolho também era conhecido como Quilombo do Quariterê. (a atual fronteira entre Mato Grosso e Bolívia). Esse quilombo foi o maior do Mato Grosso.
Com a morte de José Piolho, Tereza se tornou a líder do quilombo, e, sob sua liderança, a comunidade negra e indígena resistiu à escravidão por duas décadas.
O Quilombo do Quariterê abrigava mais de 100 pessoas, com destacada presença de negros e indígenas. Tereza navegava com barcos imponentes pelos rios do pantanal. E todos a chamavam de “Rainha Tereza”.
O Quilombo, território de difícil acesso, foi o ambiente perfeito para Tereza coordenar um forte aparato de defesa e articular um parlamento para decidir em grupo as ações da comunidade, que vivia do cultivo de algodão, milho, feijão, mandioca, banana, e da venda dos excedentes produzidos.
Tereza comandou a estrutura política, econômica e administrativa do quilombo, mantendo um sistema de defesa com armas trocadas com os brancos ou roubadas das vilas próximas. Os objetos de ferro utilizados contra a comunidade negra que lá se refugiava eram transformados em instrumentos de trabalho, visto que dominavam o uso da forja.
“Governava esse quilombo a modo de parlamento, tendo para o conselho uma casa destinada, para a qual, em dias assinalados de todas as semanas, entrava os deputados, sendo o de maior autoridade, tipo por conselheiro, José Piolho, escravo da herança do defunto Antônio Pacheco de Morais, Isso faziam, tanto que eram chamados pela rainha, que era a que presidia e que naquele negral Senado se assentava, e se executava à risca, sem apelação nem agravo.” – Anal de Vila Bela do ano de 1770
Não se tem registros de como Tereza morreu. Uma versão é que ela se suicidou depois de ser capturada por bandeirantes a mando da capitania do Mato Grosso, por volta de 1770, e outra afirma que Tereza foi assassinada e teve a cabeça exposta no centro do Quilombo.
O Quilombo resistiu até 1770, quando foi destruído pelas forças de Luís Pinto de Sousa Coutinho. A população na época era de 79 negros e 30 índios.
Em homenagem a Tereza de Benguela, o dia 25 de julho é oficialmente no Brasil o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. A data comemorativa foi instituída pela Lei n° 12.987/2014.
Além da data comemorativa, a rainha Tereza foi homenageada nos versos da escola de samba Unidos do Viradouro, com o enredo da agremiação de 1994, cujo título é ‘Tereza de Benguela – Uma Rainha Negra no Pantanal’.

Texto: Dilson José – PT do Barreiro, militante do movimento negro.

Referência: Fonte Biográfica do Cecult
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia.

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